PESQUISADORAS DA UNESPAR: entrevista com a Professora Doutora Claudia Chies
Pesquisa
O projeto “Pesquisadores da Unespar” tem como objetivo realizar uma série de entrevistas com pesquisadoras e pesquisadores da Unespar – campus de Campo Mourão, com o propósito de divulgar as pesquisas realizadas na instituição e debater temas relevantes para a sociedade. A entrevista desta vez é com a Professora Doutora Claudia Chies.
A professora Claudia Chies cursou graduação em Geografia na Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM. Posteriormente fez o mestrado e o doutorado na Universidade Estadual de Maringá – UEM. Atua como professora e pesquisadora na Universidade Estadual do Paraná – Unespar, no campus de Campo Mourão, vinculada ao Colegiado de Geografia e ao Programa de Pós-graduação Sociedade e Desenvolvimento – PPGSED.
No campo da pesquisa tem se dedicado em estudar o envelhecimento da população, pessoa idosa e intergeracionalidade, as políticas públicas em suas múltiplas dimensões, o espaço público, a gestão territorial urbana e os processos migratórios contemporâneos. Orienta dissertações de mestrado, monografias de especialização e estudantes de iniciação científica.
Apresenta rica produção acadêmica difundida em artigos científicos, capítulos de livros, trabalhos e apresentações em eventos científicos de abrangência regional e nacional. Atualmente coordena o projeto de pesquisa intitulado: O envelhecimento da população de Campo Mourão – PR e as políticas públicas para os idosos.
Entrevista
1) O Brasil, assim como alguns outros países no mundo, vive um período de transição demográfica marcado pela redução da natalidade e aumento da esperança de vida. Quais são os efeitos do envelhecimento da população para o país?
O envelhecimento populacional é um fenômeno global, mais acentuado em alguns continentes e países, principalmente os mais desenvolvidos. Diversos fatores desencadearam a transição demográfica, destacando-se: os avanços na medicina, a melhora das condições sanitárias, a urbanização acelerada, a inserção da mulher no mercado de trabalho e nos meios educacionais, a popularização dos métodos anticoncepcionais, entre outros.
O envelhecimento da população gera mudanças no planejamento governamental no que se refere às prioridades em relação aos investimentos públicos. São fundamentais, por exemplo: investimento em políticas públicas no setor de saúde, que atendam às especificidades da população idosa; planejamento da infraestrutura urbana, que garanta condições de mobilidade; programas que propiciem educação, lazer e bem estar para a pessoa idosa; garantia dos direitos e prevenção à exploração econômica e à violência à pessoa idosa; planejamento e mudanças no sistema previdenciário, garantindo o direito à aposentadoria.
Como se observa, os impactos são diversos, o que requer de variados segmentos da sociedade o conhecimento e o envolvimento nas questões que são fundamentais para garantir um envelhecimento digno para a população.
2) A professora tem realizado pesquisas com relação a contribuição da aposentadoria para a economia de municípios de pequeno porte demográfico. Pode esclarecer os benefícios da aposentadoria para esses municípios.
De 2013 a 2017, período em que desenvolvi minha tese de doutorado, e nos anos seguintes (2018, 2019, 2020), me dediquei a pesquisar e a orientar pesquisas de especialização e iniciação científica que visaram avaliar os impactos das aposentadorias rurais especiais na dinâmica populacional e no desenvolvimento local de municípios com pequenas cidades. Realizamos o estudo em municípios das Regiões Noroeste e Centro Ocidental paranaense.
A partir dessas pesquisas é importante destacar que vários estudos têm demonstrado alcances valiosos que a aposentadoria rural apresenta, especialmente em municípios com pequenas cidades, dentre os quais destacamos:
- A revalorização dos idosos no meio rural, principalmente nas áreas mais pobres (DELGADO; CARDOSO JR., 1999, FRANÇA; 2004, ALBUQUERQUE; LÔBO; RAYMUNDO, 1999).
- Saída de famílias da condição de pobreza (DELGADO; CARDOSO JR., 1999, BRANT, 2001).
- Redistribuição de renda inter-regional (DELGADO, 1997, GOMES; MCDOWELL, 1997, SCHWARZER, 2000).
- Fortalecimento da economia dos municípios, sobretudo os menores (FRANÇA, 2004, AUGUSTO; RIBEIRO, 2005, ALBUQUERQUE; LÔBO; RAYMUNDO, 1999, CHIES, 2017; CHIES; SILVA, 2020).
- Funciona como programa de renda mínima aos idosos na área rural (BRANT, 2001, FRANÇA, 2002, 2004).
- Melhora nas condições de habitação dos aposentados (SCHWARZER, 2000, CHIES, 2017).
- Proporciona condições de acesso a serviços de saúde (SCHWARZER, 2000, ALBUQUERQUE; LÔBO; RAYMUNDO, 1999, CHIES, 2017).
- Melhora na alimentação dos aposentados (ALBUQUERQUE; LÔBO; RAYMUNDO, 1999).
- Mecanismo de permanência de aposentados e familiares no meio rural e/ou no município de origem (CHIES, 2017; CHIES et al, 2021).
- O empoderamento de mulheres aposentadas rurais (CORREIA; CHIES; FRANÇA, 2020).
Desse modo, planejar a previdência para garantir o direito à aposentadoria apresenta-se como uma das prioridades no planejamento governamental, tendo em vista o processo de envelhecimento populacional em curso e os alcances sociais dos benefícios previdenciários.
3) Envelhecer com qualidade de vida é um dos desafios da contemporaneidade, neste aspecto como as políticas públicas podem contribuir para o bem estar dos idosos?
As políticas públicas podem ser conceituadas como as ações, projetos e intervenções governamentais que visam contribuir e/ou modificar aspectos de segmentos da sociedade, contribuindo para seu desenvolvimento nas dimensões econômica, política, educacional, cultural, entre outras.
Desse modo, as políticas públicas são essenciais na garantia da oferta de oportunidades da participação das pessoas idosas nos diferentes segmentos da sociedade a partir de práticas e de profissionais preparados para o atendimento das especificidades desse grupo. Sendo assim podem contribuir para: promoção à saúde; o envelhecimento ativo; melhora da qualidade de vida; socialização, entre outros.
4) Quais são, na avaliação da professora, as principais ações promovidas em Campo Mourão e região para atender os idosos.
Campo Mourão hoje apresenta programas e ações importantes voltados à qualidade de vida e promoção à saúde da população, com destaque para as pessoas idosas. O Programa Campo Mourão Mais Ativa destaca-se como a principal política pública, cujo objetivo geral é a saída dos participantes do sedentarismo. Dentro do programa tem-se o Projeto “3ª Idade em Ação”, que oferece atividades físicas especializadas e orientadas por profissionais de educação física a grupos distribuídos em diferentes partes do município, exclusivo para pessoas com mais de 60 anos. O referido projeto, vem acompanhado de várias ações incluindo aspectos de lazer, interação social, preparo físico, diagnóstico e prevenção de doenças, saúde mental, entre outros.
Para integração e socialização dos participantes do Projeto “3ª Idade em Ação”, é realizada anualmente a Mostra de Talentos do Programa Campo Mourão + Ativa. O evento contribui também para “a disseminação da cultura por meio da dança, música, contos, piadas e poemas”. O objetivo principal é que os participantes se tornem protagonistas, “sendo as estrelas do espetáculo” (FECAM), 2020). Ainda na mesma linha, são realizados os Jogos Municipais para a Integração do Idoso, com objetivo de “um momento de união, cooperação, competição, mas acima de tudo, mostrar a importância da convivência dos idosos em sociedade” (FECAM, 2020).
Verifica-se ainda no município de Campo a criação de leis que priorizam a saúde do idoso, como a Lei nº 4.283, de 18 de março de 2022, que institui a Campanha Setembro Lilás em prol da saúde do idoso no Município de Campo Mourão, e dá outras providências. A Campanha “Setembro Lilás” é organizada pela Secretaria de Saúde de Campo Mourão. Outras ações da referida secretaria são: Reuniões de hiperdia, são reuniões mensais, onde são realizadas orientações para diversos cuidados com a saúde, teste de glicemia capilar e aferição da pressão arterial”; Estratificação de Risco de Vulnerabilidade para os Idosos; Consulta no Ambulatório Médico Especializado para idosos frágil ou com risco de fragilização; Agenda médica e de enfermagem para o idoso; Uso da caderneta da Pessoa Idosa; Acompanhamento das condicionalidades de saúde pela equipe da Estratégia Saúde da Família; Atendimento médico semanal no Lar de Idosos, entre outras. As ações objetivam a prevenção, orientação e promoção da Saúde do Idoso.
Ainda destaca-se também a Lei nº 4.274, de 15 de fevereiro de 2022, que dispõe sobre o Estatuto Municipal do Idoso, Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa e do Fundo Municipal da Pessoa Idosa.
A somatória dessas e de outras políticas públicas, contribuem para melhorar a qualidade de vida, promovem saúde e bem estar aos idosos. Porém é preciso lembrar que as políticas públicas devem sempre ser planejadas, avaliadas e readequadas, para que efetivamente atendam às demandas do grupo atendido.
5) Nas suas pesquisas atuais a temática políticas públicas aparece constantemente, sendo um objeto de análise e investigação. As políticas públicas estão realmente promovendo mudanças estruturais capazes de melhorar a vida das pessoas que mais precisam do Estado?
As políticas públicas são essenciais à população de modo geral, especialmente aos grupos mais vulneráveis. No entanto, temos duas classes principais de políticas públicas, as de governo e as de Estado. As políticas de Estado, que dizem respeito às ações, programas e projetos que tornam-se contínuos, garantidos por lei, são as que efetivamente proporcionam as mudanças estruturais e impactam efetiva e continuamente na vida das pessoas.
Já as políticas de governo são aquelas que perduram apenas no decorrer de um determinado governo, sendo descontinuadas, não alcançando mudanças socioeconômicas significativas. Desse modo, é essencial que os representantes públicos apresentem interesse social e que assumam o compromisso de avaliar e promover a continuidade das práticas exitosas.
6) A professora está lotada no Colegiado do curso de Geografia na Unespar atuando no ensino, na pesquisa e na extensão. Qual a sua avaliação com relação ao papel da Geografia no mundo atual?
A Geografia é a ciência que analisa as relações entre a sociedade e a natureza, portanto é essencial para compreender as mais diversas configurações socioespaciais. No mundo atual, tão dinâmico, permeado por rápidas mudanças a partir da influência de variadas dimensões como: a econômica, a política, a ambiental, a cultural; a Geografia contribui principalmente para formar cidadãos críticos e ativos socialmente, capazes de compreender a dinâmica dos fenômenos dos espaços em que vivem, aqueles que de fato farão diferença nesses espaços.