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PESQUISADORAS DA UNESPAR: entrevista com a Professora Doutora Andréa Machado Groff

Pesquisa

por publicado: 06/11/2023 15h01 última modificação: 29/02/2024 10h16

O projeto “Pesquisadores da Unespar” tem como objetivo realizar uma série de entrevistas com pesquisadoras e pesquisadores da Unespar – campus de Campo Mourão, com o propósito de divulgar as pesquisas realizadas na instituição e debater temas relevantes para a sociedade. A entrevista desta vez é com a Professora Doutora Andréa Machado Groff.

Engenheira Agrônoma de formação, a professora Andréa Machado Groff possui graduação pela Universidade Federal do Paraná - UFPR, mestrado em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM e doutorado em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná - UFPR com período sandwich no Institut National de la Recherche Agronomique – INRA, em Clermont-Ferrand, na França.

Está vinculada ao curso de Engenharia de Produção Agroindustrial na Universidade Estadual do Paraná - Campus de Campo Mourão. É pesquisadora do Grupo Multidisciplinar de Pesquisas Agroindustriais – GMPAgro, Coordenadora Local da Comissão de Mulheres do Agro da FAEP, Conselheira Técnica da Agroi9 Incubadora e Chefe da Divisão de Planejamento do Campus.

Atualmente é Coordenadora do projeto de pesquisa Agregação de valor aos produtos da agricultura familiar, no qual busca identificar formas de agregação de valor para os produtos originados da agricultura familiar, e orienta o projeto de iniciação científica Práticas agrícolas sustentáveis na produção de grãos do município de Campo Mourão, que visa descrever as práticas sustentáveis realizadas por produtores de grãos do município.

 

ENTREVISTA

 

1) A agricultura é, historicamente no Brasil, uma atividade importante para a economia e para a sociedade. A agricultura passou e continua passando por inúmeras modificações técnicas, isto é ainda mais evidente no período atual. Para qual direção caminham, na visão da professora, as mudanças no campo no país?

A agricultura é uma atividade de grande importância histórica e o país é destaque e referência em diversas cadeias produtivas. As várias tecnologias adotadas no campo contribuíram e contribuem para a melhoria da eficiência dos processos produtivos e da qualidade dos produtos agrícolas.

Quanto à direção das mudanças penso que caminham em busca de soluções que possibilitem lidar com os desafios existentes no campo tais como a mineração dos diversos dados gerados, a sustentabilidade dos processos produtivos e a gestão das propriedades rurais.

2) A região de Campo Mourão se destaca economicamente pela produção agrícola, no entanto, uma boa parte da produção ainda é vendida in natura ou com pouco valor agregado. Este cenário está mudando ou ainda é um desafio a ser superado?

Agregar valor não é tão simples. Antes de pensarmos em estratégias para agregar valor aos produtos agrícolas precisamos compreender as mudanças no comportamento dos consumidores, o que eles percebem como valor e quais são as principais tendências de consumo. Estudos demonstram maiores tendências de consumo para produtos com conveniência e praticidade, porém, questões relacionadas à saúde, bem-estar, sensorialidade, sustentabilidade, ética e confiabilidade também são importantes. Tais tendências demonstram oportunidades de agregação de valor tanto aos produtos in natura como aos produtos processados.

Na minha opinião, o desafio está no desenvolvimento de estratégias que possam contribuir para incrementar o valor percebido pelo consumidor. Ações como a valorização da compra local e de produtos regionais, obtenção de certificações, desenvolvimento de novos produtos são importantes, no entanto, também precisamos aproximar consumidores da realidade do produtor rural e melhorar a comunicação no agro, valorizando o trabalho dos produtores rurais. 

3) Atualmente se valoriza e se fala muito sobre o agronegócio, porém, parece que não existe a mesma preocupação com a agricultura familiar. De acordo com as suas pesquisas qual é a importância da agricultura familiar?

O agronegócio é um termo amplo, que surgiu da tradução de agribusiness, conceito criado por Davis e Goldberg em 1957, que compreende os diversos segmentos incluindo os agricultores (familiares ou não). Milhares de produtores rurais estão integrados às cadeias produtivas, comprando insumos, contratando serviços e fornecendo produtos para venda direta aos consumidores e matérias-primas para agroindústrias.

No que se refere especificamente aos agricultores familiares estes representam a maioria no Brasil, no Paraná e em Campo Mourão fornecendo diversos alimentos. Na minha opinião, é importante que ações que promovam a maior eficiência dos processos no campo e o desenvolvimento da agricultura sejam ampliadas.

 

4) Diferente dos grandes produtores rurais capitalizados, cuja produção está direcionada principalmente para a exportação; os pequenos produtores, pouco capitalizados, são os responsáveis por muitos dos alimentos que vão para a mesa da população. Como é possível melhorar a renda dos pequenos agricultores?

Para a melhoria da renda precisamos considerar as exigências dos consumidores, identificar nichos de mercado e aproximar consumidores da realidade dos produtores rurais, a fim de que os produtos produzidos pelos pequenos agricultores, sejam valorizados pelos consumidores. Não podemos pensar só nos alimentos diferenciados como alternativa de renda, mas, também em serviços como o turismo na propriedade rural, por exemplo.

É necessário também considerar questões culturais e a vocação regional para que possamos obter maior eficiência produtiva nas pequenas propriedades. Pesquisas a fim de identificar a vocação agrícola das pequenas propriedades/ da região são importantes e podem direcionar as políticas agrícolas.

Outro aspecto importante para a melhoria da renda dos agricultores é a diversificação das atividades e a busca de assistência técnica para a gestão adequada da propriedade rural, que serve de base para a tomada de decisões, para a otimização dos processos produtivos e adoção de práticas/tecnologias que possibilitem melhores resultados, maior eficiência nos processos e obtenção de produtos de qualidade. Temos vários casos de sucesso em pequenas propriedades, um exemplo é o cultivo do maracujá no município de Corumbataí do Sul.

Cabe destacar que, no território, temos importantes instituições que tem contribuído para o desenvolvimento da agricultura dando suporte para a adequada gestão das propriedades, manejo das lavouras e dos animais entre outras ações que promovam maior renda aos agricultores.

 

5) Outra dificuldade enfrentada pelos agricultores familiares é a sucessão da propriedade. Muitos jovens preferem mudar para as cidades em busca de um trabalho urbano do que continuar no campo. O que precisa ser feito para mudar este cenário?

O planejamento da sucessão familiar é de extrema importância para os agricultores e é um tema que precisa ser amplamente discutido nas famílias a fim de minimizar dificuldades futuras. Para promover a permanência dos jovens no campo, é necessário pensar em alternativas rentáveis para a propriedade rural e em ações que valorizem o trabalho no campo.

O cenário está mudando, nos últimos anos, os temas sucessão familiar e a participação das mulheres no agro estão em evidência. Entre as ações destaco a presença destes temas em diversos eventos do agro, o papel de muitas organizações em despertar a importância do planejamento da sucessão familiar e da inserção das mulheres no agro, a criação de comissões de Mulheres do Agro e dos programas Pronaf Jovem, Pronaf Mulher e de capacitação de jovens e de mulheres. Penso que ações deste tipo contribuem para a mudança deste cenário.

6) Como o curso de Engenharia de Produção Agroindustrial, no qual a professora é docente, tem contribuído para a agregação de valor para os produtos da agricultura?

O Curso de Engenharia de Produção Agroindustrial tem como forças a formação de profissionais capacitados a atuarem na gestão de processos, com vistas a melhor utilização dos recursos, produção de produtos de qualidade entre outras ações. Por meio da realização de pesquisas, de estudos de caso, de ações de extensão e participação na empresa Jr. do Curso, os acadêmicos tem contato com a realidade de empresas prestadoras de serviços, indústrias, propriedades rurais e organizações que dão suporte à agricultura.

Com frequência, discutimos com os acadêmicos as competências do Engenheiro de Produção Agroindustrial, as diversas oportunidades de atuação deste profissional e as suas possíveis contribuições para a agregação de valor aos produtos/serviços envolvidos na agricultura.

Os estudantes e egressos do Curso, ao realizarem pesquisas de mercado, elaboração de planos de negócios e de marketing, suporte na gestão das empresas, desenvolvimento de novos produtos e identificação de estratégias de agregação de valor contribuem para o desenvolvimento da agricultura.